Salvador da Bahia - Urbano Avesso

Salvador da Bahia - Urbano Avesso
Tudo está de cabeça pra baixo, mas quase ninguém percebe.

quinta-feira, 13 de maio de 2010

Desabafo



Hoje eu saí por Salvador e chorei. Chorei porque vi minha cidade doente. Porque vi minha história e minhas lembranças degradadas. Porque vi meu povo negro com fome, espremido e (sub)julgado. Porque vi que Salvador se tornou uma prostituta, vendida aos mais ricos que a estupram. Eu vi suas “veias” entupidas. Seu sangue já não circula, não flui. “Pontes de safena” mal feitas não adiantam mais. Suas células estão perdendo seu DNA, optando por uma combinação simples que nada se compara a riqueza de outrora.

Sinto falta de um coração batendo forte, muito forte, de cultura útil, de manifestação, de humanidade e vida. Salvador está leprosa, meus amigos. Salvador tem um câncer de pele, que não se cura a mais de 400 anos. E ainda perdeu sua imunidade, pegou AIDS. Não há luta pelo bem comum, não há resistência, não há nada. Aliás, há a alienação naqueles sete dias de fevereiro.

Mas eu ainda tenho a esperança da cura. Ainda acredito num milagre que irá tirar Salvador do leito de morte. Eu tenho fé de que um dia seu câncer de pele vai sarar pela simples consciência de igualdade entre suas células. Que a sua AIDS não irá mais se manifestar porque todos seus sistemas vão se unir para lutar e defender o que é nosso, a cultura e o patrimônio que nos pertencem, nossa dignidade. Pena que isso não acontece hoje. E tomara que não seja daqui a 460 anos (ou mais).


Eduardo Pinheiro

terça-feira, 4 de maio de 2010

Lentidão

A lei da selva. Essa é a lei mor da nossa cidade. Em Salvador o cidadão comum tem que se camuflar, se esconder para não ser assaltado. Tem que vigiar e ,se possível, andar em bandos, para evitar abordagens dos marginais. Tem que ser veloz e ágil para se desviar dos tiros, seja nas ruas movimentadas e escadarias da Pituba ou nos bairros mais populares. A cidade está cada vez mais desumanizada e a população ,pra variar, reclama, mas não faz NADA.

Nem o perigo e o medo da morte fazem o soteropolitano agir. Será que o baiano curte a emoção, a adrenalina que é sair nas ruas da cidade? E de fato, é adrenalina pura sair a noite em Salvador. Depois que o novo coronel da cidade, o CRACK, assumiu o comando, nunca se sabe o que pode acontecer quando se sai de casa, isso se ele já não entrou em sua casa, e ainda assim, a população reclama, mas não faz NADA.

Até quando o cidadão que paga impostos vai se submeter a isso? A essa prisão urbana? Pensar duas vezes antes de sair de casa porque haverá um BAVI no fim de semana. Pensar duas vezes antes de atender o celular no ônibus. Pensar duas vezes antes de adquirir um bem, já imaginando que será roubado. Quando o povo vai fazer alguma coisa? Essa lentidão é patética e revoltante pra quem tem consciência, pra quem nunca vai se acostumar com isso. Essa consciência rara, rarefeita, precisa se concentrar. De preferência, na praça Municipal, na frente da prefeitura da linda e maravilhosa cidade do Salvador. A "prefeitura de participação popular".



Eduardo Pinheiro.

domingo, 2 de maio de 2010

Marasmo

Salvador, capital baiana, capital do povo que "já nasce com o saber ancestral". Mas que saber é esse? Que ancestralidade é essa? A pobreza ancestral? A violência ancestral? A desigualdade ancestral? Salvador está entregue a todos esses "saberes", mas é outra característica que chama a atenção daquele que vos escreve.

A população soteropolitana age da forma que todo típico político brasileiro aprecia. Mesmo diante de todas as adversidades que diariamente são enfrentadas e vistas pelos moradores da terceira maior e mais mais zoada capital do país, o povo não se move. Não só por causa do transito lento ou da ausência de calçadas dignas de serem usadas, mas pela simples falta de ânimo em se questionar, em cobrar e, principalmente, em reivindicar. Preguiça! A sociedade acostumada com o abuso, com o cinismo e com a omissão. A cidade inunda, barracos deslizam, a orla se faveliza e o patrimônio público se acaba. Enquanto isso Alphaville ganha mais uma luxuosa mansão: a casa do prefeito. E quem reivindica? Os barbeiros.

Andando pela cidade nota-se o descaso em todos os bairros. Nota-se a lentidão do poder público e a omissão da população. Ninguém faz, ninguém reclama. Ninguém. Zés Ninguém morrem em chacinas, esperando vaga nos hospitais, vítimas da violência e do descaso a espera de uma mudança. Mas nada tão importante e urgente como o carnaval, a parada Disney, a final do campeonato baiano, a cachaça pra esquecer os problemas. É meus caros. Enquanto não fecharem os bares, os prostíbulos e acabarem com as festas de largo, a o povo soteropolitano estará satisfeito porque saúde, transporte ,educação e segurança pública, são detalhes os quais a população pode tranquilamente viver sem. Maldito pão-e-circo!

Mãos na cabeça! Não porque começou o rebolation. É o desespero de quem não aguenta mais esse marasmo.

Eduardo Pinheiro.