quinta-feira, 13 de maio de 2010
Desabafo
Hoje eu saí por Salvador e chorei. Chorei porque vi minha cidade doente. Porque vi minha história e minhas lembranças degradadas. Porque vi meu povo negro com fome, espremido e (sub)julgado. Porque vi que Salvador se tornou uma prostituta, vendida aos mais ricos que a estupram. Eu vi suas “veias” entupidas. Seu sangue já não circula, não flui. “Pontes de safena” mal feitas não adiantam mais. Suas células estão perdendo seu DNA, optando por uma combinação simples que nada se compara a riqueza de outrora.
Sinto falta de um coração batendo forte, muito forte, de cultura útil, de manifestação, de humanidade e vida. Salvador está leprosa, meus amigos. Salvador tem um câncer de pele, que não se cura a mais de 400 anos. E ainda perdeu sua imunidade, pegou AIDS. Não há luta pelo bem comum, não há resistência, não há nada. Aliás, há a alienação naqueles sete dias de fevereiro.
Mas eu ainda tenho a esperança da cura. Ainda acredito num milagre que irá tirar Salvador do leito de morte. Eu tenho fé de que um dia seu câncer de pele vai sarar pela simples consciência de igualdade entre suas células. Que a sua AIDS não irá mais se manifestar porque todos seus sistemas vão se unir para lutar e defender o que é nosso, a cultura e o patrimônio que nos pertencem, nossa dignidade. Pena que isso não acontece hoje. E tomara que não seja daqui a 460 anos (ou mais).
Eduardo Pinheiro
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Aaah, definitivamente eu te vi nas palavras desse post. Você é muito crítico e eu adorei seus textos. Beijocas, Eduardo =*.
ResponderExcluirNossa que lindo !
ResponderExcluirParabéns !